Arquitetos comentam os novos hábitos do morar, acompanhando pesquisas, que indica crescimento significativo das vendas de imóveis com menos de 45m²
O estilo do morar acompanha a transformação de gerações e tudo o que acontece no seu entorno. Com o passar dos tempos – principalmente nos últimos anos, fica evidenciado uma mudança de comportamento, principalmente nas gerações Y e Z – que compreende os nascidos desde a década de 1980 até o início de 2010.
A praticidade do viver, o desapego em não acumular tantos itens em casa e o conceito do compartilhar estão cada vez mais presente nas moradas do público jovem que fomenta o mercado de vendas de apartamentos com áreas úteis reduzidas.
Segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Sindicato da Habitação (Secovi-SP), seis em cada 10 novos apartamentos vendidos apresentam menos de 45m². Esse dado torna-se ainda mais expressivo quando observado que, nos últimos quatro anos, essa taxa de crescimento mais que dobrou a proporção das vendas de imóveis menores: se em 2014 representava 28% do total, até 2018 a taxa subiu alcançou o patamar de 60%.
Como os novos hábitos do morar se refletem nesses dados e nas expectativas de como o mercado imobiliário se comportará a curto e médio prazo? Para a arquiteta Fernanda Mendonça, do escritório Oliva Arquitetura, houve uma mudança expressiva no conceito do habitar um lar.
Se antes o desejo pelo imóvel era pautado na aquisição de uma unidade grande e com a ideia de mantê-lo por toda a vida, o pensamento se modificou. As gerações atuais buscam por habitações menores em detrimento a outras questões que tornaram-se mais importantes na vida cotidiana.
‘Acompanhamos um conjunção de fatores para essa mudança. Além da queda do poder de compra, o público jovem que opta por apartamentos menores é atraído por facilidades oferecidas pelos condomínios e por avanços tecnológicos que facilitam a vida atual’, explica Fernanda.
Segundo o arquiteto Pietro Terlizzi, à frente do escritório Pietro Terlizzi Arquitetura, a construção de apartamentos pequenos também é reflexo da escassez de terrenos para o mercado imobiliário. Com terrenos mais caros e apertados, as construtoras precisam compactar a metragem quadrada das plantas para disponibilizar o maior número possível de apartamentos por prédios.
‘Acredito que essa é uma tendência que veio para ficar. Para nós, arquitetos, muda-se a forma de projetar a medida que precisamos pensar em projetos com espaços mais flexíveis e dinâmicos para a vida do morador’, relata Terlizzi.
A equação financeira fortalece o mercado de apartamentos menores. Em bairros mais centralizados, próximos da concentração de trabalho e opções de lazer, o preço elevado da metragem quadrada fortalece a opção pela aquisição de residências que seguem o estilo de espaços privados, compactados e com a proposta de compartilhamento, que acompanha um conceito bastante difundido no exterior: o home & share.
Otimizando o consumo, condôminos passam a dividir o que antes era de uso privado, como área de serviço e home theater, e contar com opções como academia bem estruturada, equipe de limpeza do apartamento, área gourmet, bicicletário e até mesmo carros que podem ser compartilhados entre eles.
Construtoras e grandes imobiliárias do mercado seguem em buscas de ofertas de serviço atualizadas com a demanda do mercado.
‘Estamos em um momento de ressignificar o viver. Hoje em dia as pessoas preferem estar mais próximas do trabalho, encarar menos tempo no trânsito e ter mais tempo para si. Ter um carro não é mais obrigatório, já que os aplicativos de transporte tornam a vida do morador mais fácil e econômica’, reflete Fernanda.
Junto com suas sócias, a arquiteta Fernanda especializou-se na execução de projetos com esse viés. Pensando nesse perfil de público, Fernanda explica que imóveis com metragem entre 30 e 40m² costuma ser habitados por solteiros ou casais sem filhos.
Plantas com área de 50m² a 60m² já refletem a vida de jovens casais com o primeiro filho, que estão no início da construção da vida familiar.
Nesse âmbito, os profissionais de arquitetura trabalham para desenvolver projetos versáteis com vistas a atender a rotina de vida do cliente. Em momentos diferentes, o mesmo ambiente pode ser a sala de estar, jantar, home office e, à noite, o quarto para descanso.
‘Quem parte para esse tipo de imóvel passa a seguir uma nova filosofia de vida, quando entende-se que o primordial não é mais o ter, mas sim o ser’, pontua Fernanda.
Soluções em marcenaria e móveis multifuncionais, por exemplo, são recursos de arquitetura e decoração que permitem um aproveitamento completo do imóvel, utilizando todos os espaço. Mesmo com um volume menor de objetos e roupas, por exemplo, o morador consegue ter sua vida organizada e vivenciar uma sensação de amplitude dentro do apartamento.
Via QUAL IMÓVEL | NOTÍCIAS e Secovi Rio
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